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FSS 2024: Desembargador insiste para que os sindicatos passem para o modo digital, como alternativa para se aproximar das bases

D’Ambroso destacou o avanço das necropolíticas neoliberais que tendem a acentuar a tendência da mercantilização e uberização da vida, além da plataformização das profissões

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Na tarde desta terça-feira (05/11), o 16º Fórum Sindical Sul (FSS 2024) reuniu centenas de trabalhadores e dirigentes sindicais no auditório do Hotel Alles Berg, em Nova Petrópolis (RS), para ouvirem a palestra do Desembargador do Trabalho, Marcelo D’Ambroso, numa veemente defesa do sistema confederativo e da unicidade sindical, além de alternativas para o futuro do sindicalismo brasileiro.

O Desembargador chamou a atenção acerca do movimento de destruição dos sindicatos como uma estratégia para acabar com o direito do trabalho, iniciado pelo golpe de 2016, aprofundado pela Reforma Trabalhista e atropelado pela Lei de Liberdade Econômica, de 2019.

“Os direitos trabalhistas estão sendo exterminados sem precisar mexer na Constituição, a qual está virando apenas em um quadro bonito para ser visto como seria o mundo ideal, enquanto nós vamos retrocedendo à primeira Revolução Industrial”, afirmou o magistrado. 

Apontando para os smartphones como ‘aparatos do mal’, D’Ambroso destacou o avanço das necropolíticas neoliberais que tendem a acentuar a tendência da mercantilização e uberização da vida, além da plataformização das profissões. A isso ele complementa que, “O sonho do capitalismo tecnológico é implantar o trabalho ‘zero hora’, em que o trabalhador só recebe pelo que trabalha, sem ser pago pelo tempo que ele fica à disposição da empresa”. 

Em defesa das organizações sindicais como alicerce da democracia, D’Ambroso apontou o fato do movimento antissindical que se avoluma pelas forças neoliberais da direita que aos poucos vão afastando a classe trabalhadora dos sindicatos, substituindo-os por igrejas. “Se não tiver reação, talvez em pouco anos não tenhamos mais sindicatos”, alertou. 

Essa situação, conforme ele, se dá em grande parte pela desinformação e manipulação da opinião pública pelas redes sociais, por meio das quais a população é constantemente bombardeada e convencida pelas ideias da meritocracia, pela ideologia do empreendedorismo e pelo ódio ao sindicato que é apresentado como um inimigo do povo. 

Segundo ele, assim como na Alemanha nazista, essa subjetivação pelas redes sociais por meio de uma eficiente rede de desinformação, cria um contexto de neofascismo, manipula a opinião pública e reverte a verdade em que, numa ação orquestrada, vai substituindo a história por narrativas distópicas. 

Dentre os esses efeitos da tecnologia contra a classe trabalhadora e o próprio movimento sindical, o magistrado aponta a redução da taxa de sindicalização dos trabalhadores brasileiros a uma casa de um dígito, bem como a eleição recente de bancadas inteiras para governarem grandes cidades, revestidas pela pauta moral e dos bons costumes, e que estão dispostas a tudo para implodirem as instituições de proteção social. 

Como uma alternativa deste enfrentamento, D’Ambroso sugere aos sindicatos o uso das redes sociais de modo a se comunicarem com as suas bases.

“Se o sindicato não sair do modo analógico para o digital, discutindo nas redes sociais, vai continuar perdendo para as igrejas que estão sendo financiadas pelo capital estadunidense para reforçarem esse discurso de meritocracia e empreendedorismo”, analisou.

Ele ainda insiste para que os sindicatos passem do modo analógico para o digital, como uma alternativa viável para chegar nas bases e passar informações corretas, fazendo uma disputa de narrativas através das próprias redes. “Vocês têm organização, grandes lideranças e são bem articulados, mas tudo isso não chega na base que continua acreditando no empreendedorismo, na meritocracia e no ‘deus, pátria e família’”, destacou. 

CONSCIÊNCIA DE CLASSE – Na ocasião, D’Ambroso também lamentou a perda de consciência de classe pelo discurso do empreendedorismo, em que uma pessoa é levada a empreender para que uma outra lucre. Imersos nessa cultura, as pessoas se identificam como empresa e, dessa forma, se opõe aos sindicatos, dando vazão ao anti sindicalismo, em que o trabalhador perde a perspectiva de uma entidade coletiva e, com isso, vai contribuindo para o extermínio dos direitos da classe trabalhadora; sendo que para reverter essa situação, conforme ele, será preciso muita pressão, mobilização e conscientização. 

Diante a exposição do Desembargador, o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Santa Catarina (FETIESC), Idemar Antonio Martini, destacou a necessidade iminente de o movimento sindical pensar coletivamente e somar forças para resistir a estas investidas constantes do capital com vistas a eliminar o direito do trabalho. 

Para ele, a realização do FSS 2024 é uma forma de resistência e fazer com que os dirigentes pensem em um projeto alternativo para o país.  Com esse entendimento, Martini destacou a responsabilidade de cada dirigente sindical em manter acesa a chama desta luta histórica a favor da classe trabalhadora, ganhando a consciência das pessoas para se preparar e se fortalecer para enfrentar a disputa ideológica contra a extrema direita. 

O FSS 2024 continua durante toda essa quarta-feira (06/11), com a participação do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias, José Reginaldo Inácio e do representante do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), André Luis dos Santos.

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