A indústria de transformação seria a mais afetada, com o risco de fechar 215 mil postos de trabalho
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Na tarde desta quarta-feira, dia 20 de agosto de 2025, dirigentes de sindicatos laborais de todo o Estado de Santa Catarina, ligados à Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Santa Catarina (FETIESC), participaram de uma palestra com Crystiane Peres, supervisora do Escritório Regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina. A convocação foi feita pelo presidente da FETIESC, Idemar Antônio Martini, para discutir os impactos da guerra tarifária imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump aos produtos brasileiros, que afetam diretamente as indústrias catarinenses.
Segundo Martini, o projeto de Trump traz consequências severas para a humanidade, comprometendo não apenas a economia, com emprego e renda, mas também a soberania nacional. Crystiane Peres foi além e alertou que essa guerra tarifária tem motivação política para a refundação de um império, um processo violento pelo qual os EUA busca se impor como a maior potência mundial. “Isso interfere nas questões internas do Brasil, visando influenciar as eleições do próximo ano. A ofensiva dos EUA, que vem perdendo participação internacional para a China, busca se recolocar no mundo através de embargos, tarifas e sanções “, adverte.
Conforme Crystiane Peres, apenas 12,07% das exportações brasileiras vão para os Estados Unidos, enquanto 15,98% das importações vêm de lá. A China é o principal destino das exportações brasileiras, com 28%. No entanto, em Santa Catarina, os EUA continuam sendo o principal importador, com 15% das exportações em 2024, totalizando US$ 1,7 bilhões. No primeiro semestre de 2025, Santa Catarina ocupou a nona posição entre os estados brasileiros em valores exportados (US$ 5,9 bilhões), com crescimento de 6,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, houve queda nas exportações para os EUA (-1,1%) e China (-5,3%), enquanto aumentaram para Argentina (33,4%) e Japão (25,8%).
Dez produtos respondem por 75,5% das exportações catarinenses para os EUA no primeiro semestre de 2025, sendo que produtos do segmento da madeira representam 44,3%. Segundo ela, um estudo preliminar do Dieese indica que 35,9% das exportações brasileiras podem ser tarifadas em 50%. “Isso pode resultar na perda de 726 mil postos de trabalho no Brasil, uma redução de R$ 14 bilhões na massa salarial e uma queda de 0,357% no PIB, sem considerar as medidas do Governo Federal”, complementa ela ao afirmar que a indústria de transformação seria a mais afetada, com 215 mil vagas a menos, seguida pelo setor de serviços (-241 mil).
Peres também destacou que no ano passado, Santa Catarina teve o maior crescimento da indústria de transformação no país, com 7,2%, enquanto a média nacional foi de 3,7%. No primeiro semestre de 2025, o estado cresceu 4,4%, gerando 28.767 novos empregos.
Para amenizar os impactos das tarifas, o Governo Federal lançou o “Plano Brasil Soberano”, com três linhas de ação:
1. Fortalecimento do setor produtivo: Linha de crédito de R$ 30 bilhões para os setores afetados, modernização da garantia à exportação, diferimento de tributos federais, compras governamentais e prorrogação de prazos do regime de drawback.
2. Proteção dos trabalhadores: Manutenção de empregos e criação da Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego. O acesso às linhas de crédito está condicionado à manutenção de empregos.
3. Diplomacia comercial e multilateralismo: Abertura de novos mercados e continuidade das negociações com o Governo Norte-Americano.
Na contramão do Governo Federal, o Governo de Santa Catarina anunciou um pacote de R$ 435 milhões para apoiar as empresas afetadas, com linhas de crédito e suspensão do pagamento de tributos, mas sem a mesma exigência de manutenção de empregos.
Da mesma maneira, contrariando as medidas do Governo Federal, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) apresentou na semana passada sugestões à Medida Provisória do “Brasil Soberano”, pedindo a exclusão da garantia de manutenção ou ampliação do número de empregos. Além disso, solicitou a expansão das aquisições públicas de bens industriais, desoneração integral da folha de pagamento das empresas exportadoras para os EUA, redução proporcional de jornada de trabalho e salários, suspensão temporária do contrato de trabalho e concessão de férias coletivas.
Martini criticou as entidades patronais, afirmando que, em momentos de crise, elas avançam como “leões famintos”, buscando financiamento e recursos sem garantir a manutenção dos empregos. Ele enfatizou a necessidade de união entre as centrais sindicais, confederações, federações e sindicatos para enfrentar a situação, independentemente de suas diferenças ideológicas.
Crystiane Peres sugeriu algumas ações para os sindicatos: acompanhamento das movimentações de emprego, articulação das negociações coletivas no estado, criação de Câmaras Regionais de Acompanhamento do Emprego e Mesas de Negociação específicas com o setor patronal.
Conforme Martini, é preciso compreender que a guerra tarifária de Trump tem impactos significativos na economia de Santa Catarina, especialmente na indústria de transformação. Para ele, as medidas do Governo Federal buscam proteger os trabalhadores e fortalecer o setor produtivo, enquanto o Governo Estadual e a própria FIESC adotam uma postura contrária às medidas de proteção ao emprego.
Os sindicalistas presentes na reunião, em consonância com o presidente Idemar, manifestaram preocupação com a preservação dos empregos, a negociação salarial e a interferência dos Estados Unidos na política brasileira. Eles destacaram que a tentativa dos EUA de influenciar as eleições do próximo ano representa uma ameaça à soberania nacional e pode comprometer as conquistas trabalhistas e sociais. Eles também enfatizaram a importância de manter uma postura de resistência e negociação, buscando alternativas que minimizem os impactos negativos sobre a classe trabalhadora e a economia local.
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