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Negociação dos papeleiros começa sem avanço e com abandono da mesa por parte dos sindicatos

Com o impasse instalado, a FETIESC deve agendar nova rodada de negociação, mas deixou claro que não aceitará propostas que representem estagnação salarial e desrespeito à dignidade dos trabalhadores do setor papeleiro

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A primeira rodada da negociação coletiva dos trabalhadores papeleiros, realizada na manhã desta sexta-feira (17) na sede da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Santa Catarina (FETIESC), em Itapema, terminou sem acordo e em clima de indignação. Após duas horas de conversas, marcadas por relatos duros sobre a realidade enfrentada pelos trabalhadores no chão de fábrica, os dirigentes sindicais decidiram abandonar a reunião diante da proposta considerada desrespeitosa apresentada pelo Sindicato das Indústrias de Celulose e Papel de Santa Catarina (Sinpesc).

A categoria esperava um avanço real nas negociações, mas o procurador do Sinpesc, advogado Sérgio Roberto Juchem, defendeu que os aumentos reais conquistados nos anos anteriores fossem considerados como ganho real também para este ano — uma proposta que foi prontamente rejeitada pelos representantes dos trabalhadores. O patronal apresentou apenas a reposição da inflação dos últimos 12 meses, de 5,1% (INPC), sem nenhum acréscimo real.

A negociação envolve a maioria dos sindicatos papeleiros do Estado. Mesmo com a amplitude da representação, o Sinpesc não apresentou uma proposta condizente com as necessidades da categoria. Diante disso, o presidente da FETIESC, Idemar Antonio Martini, encerrou a rodada.

Martini, que iniciou sua trajetória profissional na indústria papeleira em 1971, lembrou com pesar a desvalorização da categoria ao longo das décadas. “Naquela época, era motivo de orgulho trabalhar na indústria papeleira. Ganhávamos mais do que os funcionários do Banco do Brasil. Hoje, qualquer comércio paga mais do que as fábricas de papel”, lamentou.

O assessor jurídico da FETIESC, André Bevilaqua, reforçou que o cenário econômico não justifica a postura patronal. “Ano passado, o setor dizia esperar um 2025 negativo, mas isso não se concretizou. O primeiro semestre deste ano mostrou crescimento de 4,4% na indústria catarinense e aumento de 6% nas exportações do setor papeleiro. Mesmo assim, o Sinpesc trouxe uma proposta sem aumento real, o que não se sustenta diante dos números”, destacou.

Bevilaqua também lembrou que, neste ano, todas as negociações coletivas conduzidas pela FETIESC resultaram em ganhos reais para os trabalhadores — o que reforça a expectativa de que o mesmo ocorra com os papeleiros.

Trabalhador sofrido: relatos do chão de fábrica

Durante a reunião, os dirigentes sindicais trouxeram relatos que evidenciam a dura realidade vivida pelos papeleiros em diferentes regiões do Estado.

João Brasil, de Jaraguá do Sul, afirmou que as próprias empresas têm sido obrigadas a pagar pisos salariais acima do definido em convenção coletiva, pois não conseguem contratar mão de obra com os valores atuais. O mesmo ocorre com benefícios como cesta básica e abonos.

Gabriel Fantin, de Fraiburgo, relatou a decadência das condições de vida da categoria após 2021, com achatamento salarial e alta rotatividade. “Muitos trabalhadores estão migrando para o comércio ou para a agricultura, onde os rendimentos são melhores”, disse.

Ezequiel Chaves, de Vargem Bonita, destacou a evasão da mão de obra qualificada após a chegada de grandes empresas na região, como a Nestlé, que oferece salários e benefícios muito superiores.

Jocil Pereira, de Campos Novos, relatou que a jornada de trabalho 6×2 tem levado ao cansaço extremo e desmotivação, uma vez que obriga a categoria a trabalhar aos sábados e domingos.

Ivo Weber, de Caçador, reforçou que há escassez de mão de obra e que muitos trabalhadores chegam a cumprir jornadas de até 12 horas diárias para dar conta da produção.

Já José de Andrade, de Blumenau, e Dirlei Kaiser da Costa, de Otacílio Costa, denunciaram que várias empresas têm aplicado benefícios acima do previsto em convenção, o que acaba por fragilizar a representatividade sindical e enfraquecer a luta coletiva.

Com o impasse instalado, a FETIESC deve convocar nova rodada de negociação, mas deixou claro que não aceitará propostas que representem estagnação salarial e desrespeito à dignidade dos trabalhadores do setor papeleiro.

“O papel que move o mundo é produzido pelo suor de milhares de trabalhadores catarinenses. Não aceitaremos que eles sejam tratados como descartáveis”, afirmou o presidente Idemar Martini.

Imprensa Fetiesc

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