*José Álvaro de Lima Cardoso

Apesar das medidas anunciadas estarem fortemente calcadas na desoneração de impostos, elas não devem causar grandes impactos nas contas públicas, nem comprometer a meta de superávit primário para 2012, de 3,1% do PIB. Isto porque é grande a margem que o governo dispõe para obter receitas extraordinárias e de deslocar despesas para o ano seguinte (por exemplo, em fevereiro deste ano o governo obteve R$ 5 bilhões de dividendos, garantindo superávit de R$ 5,4 bilhões no mês). No ano passado a arrecadação do governo federal com dividendos foi de R$ 20 bilhões e pode chegar a R$ 25,5 bilhões em 2012. De qualquer forma, a política fiscal será expansionista em 2012, pelo crescimento das despesas com a Previdência em função do aumento do mínimo, e pela aceleração do ritmo de investimentos da União.
Um problema importante: o robusto empréstimo que será feito pelo Tesouro ao BNDES (fundamental para viabilização do pacote anunciado) será operacionalizado através da emissão de títulos públicos, aumentando a dívida bruta, que já não é pequena. Ou seja, em última instância o subsídio à indústria será realizado via dívida pública, que paga os juros mais generosos do mundo. Outro problema diz respeito à desoneração da folha dos 15 setores industriais. O governo promete compensar as eventuais perdas do INSS, porém tal compensação deverá ser realizada com base em estimativas, e não com base na perda efetiva de receita, o que pode aumentar o suposto “déficit” da Previdência Social (como se sabe, a Seguridade Social, onde se insere a Previdência Social, é superavitária no Brasil). O Ministério da Fazenda estima que a substituição da contribuição patronal de 20% sobre a folha desses 15 setores por uma nova contribuição sobre a receita bruta implica uma renúncia fiscal de R$ 7,2 bilhões ao ano. Ou seja, a mudança reduzirá a receita da Previdência Social em R$ 7,2 bilhões por ano, que serão cobertos pela União.
As medidas para proteção da indústria, por sua vez, são importantes, mas não suficientes. Como a atual crise mundial será de longa duração e existe grande oferta industrial excedente, a disputa de mercados será cada vez mais difícil. O Brasil tem que enfrentar o problema da sobrevalorização do real com muita determinação. A questão dos juros permanece no centro do debate do problema industrial, pois o elevado rendimento atrai bilhões de dólares especulativos, valorizando o real. Além disso, em algum momento, o governo brasileiro terá que enfrentar o problema de controle de capitais. Se há um tsunami de dólares e de euros no mundo, vazando para os emergentes e valorizando o real, nada mais justo do que controlar estes capitais. Como faz, por exemplo, o Chile, desde 1991, com sucesso.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.




